domingo, julho 04, 2010

MASCARAS AFRICANAS

AS MÁSCARAS AFRICANAS E SUAS MÚLTIPLAS FACES

Fragmentos de texto baseado no artigo de Luzia Gomes Ferreira da Universidade Federal da Bahia.

Em lugar de negar-lhes a história faríamos melhor se ouvíssemos as histórias que têm para contar. E quando o fizermos é possível que suas artes venham a ser, não as 'artes dos povos sem história’, mas sim as 'artes dos povos com outras histórias'.
Sally Price

INTRODUÇÃO

Os diversos povos africanos, através das suas manifestações artísticas, possibilitaram aos 'ocidentais uma nova concepção de arte e do belo


ARTE AFRICANA

A África desempenhou um importante papel na História da Humanidade, uma vez que, neste continente foram encontrados os primeiros vestígios do ser humano na terra. Através desta constatação fica evidente que as produções artísticas dos diversos povos africanos, é uma das mais antigas do mundo. Há estudos que comprovam a existência de pinturas rupestres na Namíbia que datam vinte mil anos; e que no norte da Nigéria, no primeiro milênio a.C, já se produziam esculturas de terracota.


Luta entre Bosquimanos e Hotentotes, são das pinturas rupestres mais antigas que há conhecimento, no norte da Rodésia, África


A arte africana possui características que lhes são peculiares. A obra aparece como um bem coletivo útil e sagrado, no qual está inserido no cotidiano das pessoas que a produz; o “belo” deve ser apreciado por todos; e não por um grupo seleto, como acontece na sociedade ocidental.

 A arte ocidental é uma criação individual, em que o artista tem que expressar toda sua individualidade para se destacar dos demais.

As características tão singulares da arte africana fizeram com que durante muito tempo ela fosse vista pelo ocidente como uma "arte inferior". Não se considerou o fato de que a arte por ser produção humana, é diversa. Os ocidentais analisavam a obra de arte africana dentro dos seus próprios parâmetros, dentro da sua concepção do "belo universal". Mas, como afirma o professor Sodré: "A arte africana é uma outra forma de manifestação da sensibilidade humana, tão variável quanto à diversidade cultural do nosso planeta”.


A arte de origem, da África, e a arte negra do aqui-agora constituem uma criação ontológica, e não social propriamente. É uma arte em que a figura humana é plena e revestida de totalidade. Ideológica ou não, sua genuidade está na reflexão-do-homem- sobre-o-homem-pelo-homem, dentro de um ideário cultural, sim, o que não quer dizer que não haja diferenças na arte negra, tradicional ou moderna – nem da África, nem do Brasil.


Isso explica o problema da individualidade na arte africana e na arte negra, sempre considerada em seu caráter 'coletivo' sociológico, e por isso diminuída em seu valor estético-artístico na concepção branca-colonial-européia.

No tocante, a História da Arte pode-se perceber que geralmente a arte negra africana não aparece nos livros de História da Arte, e, quando aparece não é contextualizada lhe são atribuídos adjetivos como; “fetichista, primitiva, exótica”, exceto a arte egípcia, que apesar do Egito ser um país do continente africano, os ocidentais durante muito tempo o trataram como “não-África” e, quando começaram a tratá-lo como um país africano, tentou induzir a um pensamento de que os povos egípcios eram “superiores” aos demais povos africanos.

Outro ponto importante, é que devido ao fato da arte africana e a religiosidade estarem  intimamente interligados, criou-se segundo Price: “... a difundida idéia no ocidente de que os povos das chamadas sociedades tribais não têm consciência de sua própria história da arte, nem conversam especificamente sobre ela”.


Pode-se notar que a arte africana durante muito tempo ficou excluída do cenário da arte ocidental; e no momento em que ela começou a fazer parte desse cenário, foi de forma estigmatizada. 

Os grandes artistas considerados “mestres da arte universal” como o Picasso, Cézanne e o Mondiglianni, criaram obras em que são perceptível nitidamente traços da arte africana, como é caso da Mademoiselles D’Avignon, obra do Picasso considerada o ícone do Cubismo, que possui características estéticas das Máscaras Africanas.

Mademoiselles D’Avignon, Picasso
Ainda assim; ao invés de levar em consideração que esses artistas tenham se deixado influenciar por uma arte que traz uma outra releitura do belo, uma forma diferente de interpretar o mundo, e que eles foram privilegiados por ter essa sensibilidade, coloca-se esse fato como uma espécie de “apoio” para a arte africana. Mas vale evidenciar o que Sodré afirmou sobre essa questão: "Vale ressaltar que, apesar da sensibilidade do mestre Picasso vislumbrar na produção estética africana um potencial inovador, a arte africana já era arte por suas características contextuais e parâmetros artísticos”.


AS MÁSCARAS AFRICANAS


Máscara Pingente de Benin, Nigéria.
Provavelmente séc. XVI. Marfim. Alt., 19 cm. Metropolitan Museum of Art.










As Máscaras nas comunidades africanas, geralmente estão ligadas a rituais religiosos, de guerra, de fertilidade da terra e até mesmo de entretenimento, elas são criadas para serem vistas em movimento. Diferentemente das máscaras da sociedade ocidental, para as comunidades africanas toda a indumentária que cobre o corpo do mascarado é considerada máscara; e geralmente são os homens quem dançam mascarados.

Quando esculpidas, as máscaras africanas não representam fielmente rostos humanos como em outras sociedades; e sim, nas suas representações elas vão transcender o plano terreno, elas são produzidas de forma que se perceba a sua ligação com o sobrenatural, com o divino. Mas, para as máscaras alcançarem o seu significado aqui na terra, elas precisarão do corpo humano, é o corpo desse ser que irá intermediar essa relação entre o mundo físico e o não físico. 



Essa concepção fica explícita na citação abaixo:
A máscara africana não representa, presentifica, Lucien Stephan define a presentificação
como ‘a ação ou operação por meio da qual uma identidade pertencente ao mundo invisível
se faz presente no mundo visível dos seres humanos.’ A máscara e o corpo do dançante não simulam ser, são: ancestral masculino e feminino, caos e força da energia cósmica controlada no espaço ritual, bruxa ou espírito benéfico [...] o outro sobrenatural se incorpora, mística do corpo e do rosto mascarado.

As máscaras africanas geralmente são esculpidas em madeira, a sua confecção passa por rituais desde a escolha de quem vai confeccioná-la até o ritual de purificação pelo qual o escultor irá passar, para que possa a partir daí, nascer uma nova máscara em substituição de outra.
Quando essas máscaras estão expostas em algum museu, toda essa sacralidade não é visível aos olhos do público, as pessoas só podem observá-las enquanto escultura, mas, a estética dessa escultura tem algo de diferente como explica Luz:
As esculturas africanas em geral se caracterizam basicamente por expressarem esteticamente um conceito, uma idéia, uma essência, para além da aparência 'realista', referem-se um repertório de signos que muitas vezes se expressam em formas abstratas geométricas e exploram um espaço multidimensional. As esculturas representam e invocam uma visão do mundo, materializam forças invisíveis, representando-as . É a 'escultura dos signos', como se referiu Ola Balogun.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É notório o quanto de belo há na arte africana. As máscaras africanas enquanto obras de arte possuem uma função eminentemente social.
Quando os africanos de diversas partes da África chegam ao Brasil na condição de escravos, eles trazem consigo toda uma ancestralidade que será expressa nas variadas manifestações culturais e religiosas que eles recriam em território brasileiro. Segundo Oliveira, "na Diáspora africana o que vem para o Brasil não é a estrutura física-espacial das instituições nativas africanas, mas os valores e princípios do negro-africano”.

Você pode ler esse atigo na integra no:
 http://www.uesb.br/anpuhba/artigos/anpuh_II/luzia_gomes_ferreira.pdf

Um comentário:

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