segunda-feira, novembro 01, 2010

MULTIDÃO DE PRECONCEITOS


"O preconceito e a discriminação são amplamente disseminados dentro da comunidade estudantil, que ao invés de discutir sobre a diversidade opta pela exclusão. A falta de debate e esclarecimento dentro das escolas perpetua a prática discriminatória histórica no Brasil. Uma pesquisa inédita sobre "Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar" mostra que os principais alvos são os negros e as pessoas com deficiência.Das 18,5 mil pessoas entrevistadas (alunos, pais, diretores, professores e funcionários) em 501 escolas públicas de todo o país, 99,3% assumem ter algum tipo de preconceito em relação a pessoas com deficiência (96,5%), etnorracial (94,2%), gênero (93,5%), geração (91%), socioeconômico (87,5%), sobre orientação sexual (87,3%) e territorial (75,95%)."


Essa pesquisa, publicada em 2009 assustou muita gente especialmente os militantes dos movimentos de igualdade (racial, de gênero, de orientação sexual e da deficiência). Todos sabíamos que o preconceito existia, mas poucos tinham idéia de que fosse tão difundido e tão frequente. O índice mais baixo de preconceito (territorial) mostrava que 3 em cada 4 pessoas eram preconceituosas.


Todos que se escandalizavam com a pesquisa declaravam que o preconceito era um horror e que, obviamente, nenhum deles era preconceituoso. Até chegarmos à campanha presidencial...


Durante os últimos dois meses recebi mensagens, links, comentários, críticas, xingamentos, ofensas e piadas de mau gosto a respeito da, agora, presidente eleita, Dilma Rousseff, do presidente Lula e de todos aqueles que por opção partidária ou não, pretendiam votar nela.


Em nenhum momento alguém escreveu a respeito das suas propostas de governo. Ninguém questionou se as políticas públicas seriam melhores ou piores com ela. Aliás, também não recebi nenhuma mensagem defendendo o programa de governo do candidato da oposição.


Recebi dos "democratas" referências a seu passado como guerrilheira, discurso apropriado aos defensores da ditadura militar. Foi como se todos esses tivessem saído dos seus armários ideológicos para mostrar qual é realmente sua orientação política. Recebi dos "brasileiros" reclamações de que ela seria eleita por nordestinos. Como se o nordeste fosse um planeta à parte dentro desse país (na verdade, deve ser mesmo : um lugar exótico para as elites passarem as férias de verão, mas cujos habitantes valem menos que os do sul).


Recebi dos "sociais" acusações de que a candidata seria eleita pelos mais pobres...essa gentinha que começou a comer e ter poder de compra nos últimos 8 anos. Recebi dos "libertários" insinuações sobre a orientação sexual da candidata e ataques ao PNDH-3. Recebi de mães de pessoas com deficiência piadinhas a respeito da falta de um dedo do presidente (quando questionei se elas achariam engraçadas piadas sobre os seus filhos, se enfureceram comigo).


Recebi dos "inclusivos" mensagens alegando que, naquele momento (da campanha) não era a hora de discutir essa política pública, o importante era derrotar a "inimiga". Claro, se a oposição ganhasse, depois iriam resmungar que não tinham escolas para os seus filhos.Claro, eu não poderia ser poupado disso tudo. Quando resolvi, no segundo turno, apoiar a candidatura petista, por entender que a outra alternativa representaria um brutal retrocesso em todos os ganhos que tivemos, também passei a ser ofendido pessoalmente. Até mesmo pessoas que eu tinha em alta consideração demonstraram seu lado "brucutú". Questionaram minha inteligência (claro, só é inteligente quem pensa como eles), mandaram eu me f**** (imagino que é o que fariam com o país se tivessem sido eleitos) e ridicularizaram valores que me são caros.


O que isso tudo tem a ver com a questão do preconceito na escola?O resultado da pesquisa apenas reflete a educação e o exemplo que as crianças estão recebendo em casa. Pais preconceituosos formam filhos preconceituosos. Educadores preconceituosos transmitem essa formação a seus alunos. É um círculo vicioso que eu não consigo enxergar como pode ser quebrado.


Não acredito que o discurso da igualdade seja suficiente uma vez que ele não é acompanhado na prática. Não acredito nos que querem justiça e inclusão social, desde que seja só para seus próprios umbigos.


Sinceramente não sei qual é o caminho, se é que existe um. Como continuo acreditando em utopias, vou em frente tentando.


Postado por Fábio Adiron

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