sexta-feira, janeiro 07, 2011

É triste, mas é a realidade em Portugal / e no Brasil não é diferente não.

 Lendo o Diário de um professor de Portugal percebi que muitas de nossas indagações estão presentes por lá tambem, no Brasil a coisa não é diferente não.

Resolvi postar aqui para dividir com as blogueiras.

FONTE: http://cogitolight.blogspot.com/2011/01/e-triste-mas-e-realidade-em-portugal.html


É triste, mas é a realidade em Portugal

O Diário do Professor Arnaldo - A fome nas escolas


Publicado em 19 de Novembro de 2010 por Arnaldo Antunes



Ontem, uma mãe lavada em lágrimas veio ter comigo à porta da escola. Que não tinha um tostão em casa, ela e o marido estão desempregados e, até ao fim do mês, tem 2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos.

Acontece que o mais velho é meu aluno. Anda no 7.º ano, tem 12 anos mas, pela estrutura física, dir-se-ia que não tem mais de 10. Como é óbvio, fiquei chocado. Ainda lhe disse que não sou o Director de Turma do miúdo e que não podia fazer nada, a não ser alertar quem de direito, mas ela também não queria nada a não ser desabafar.

De vez em quando, dão-lhe dois ou três pães na padaria lá da beira, que ela distribui conforme pode para que os miúdos não vão de estômago vazio para a escola. Quando está completamente desesperada, como nos últimos dias, ganha coragem e recorre à instituição daqui da vila - oferecem refeições quentes aos mais necessitados. De resto, não conta a ninguém a situação em que vive, nem mesmo aos vizinhos, porque tem vergonha. Se existe pobreza envergonhada, aqui está ela em toda a sua plenitude.

Sabe que pode contar com a escola. Os miúdos têm ambos Escalão A, porque o desemprego já se prolonga há mais de um ano (quem quer duas pessoas com 45 anos de idade e habilitações ao nível da 4ª classe?). Dão-lhes o pequeno-almoço na escola e dão-lhes o almoço e o lanche.

O pior é à noite e sobretudo ao fim-de-semana. Quantas vezes aquelas duas crianças foram para a cama com meio copo de leite no estômago, misturado com o sal das suas lágrimas...

Sem saber o que dizer, segureia-a pela mão e meti-lhe 10 euros no bolso.

Começou por recusar, mas aceitou emocionada. Despediu-se a chorar, dizendoque tinha vindo ter comigo apenas por causa da mensagem que eu enviara na caderneta. Onde eu dizia, de forma dura, que «o seu educando não está minimamente concentrado nas aulas e, não raras vezes, deita a cabeça no tampo da mesma como se estivesse a dormir»

Aí, já não respondi. Senti-me culpado. Muito culpado por nunca ter reparado nesta situação dramática. Mas com 8 turmas e quase 200 alunos, como podia ter reparado?

É este o Portugal de sucesso dos nossos governantes. É este o Portugal dos nossos filhos.

Um comentário:

  1. o problema é que muitas destas crianças que procuram amor e carinho nas escolas, nem sempre o recebem... e a escola devia ser um lugar de partilha não só de conhecimentos, mas, acima de tudo, de afectos. porque o ser humano não é feito só de teorias, mas também de sentimentos... A situação descrita pelo professor Arnaldo deixou-me bastante chocado. Por tudo, por talvez também não ter reparado nestes casos, que estiveram ali mesmo ao meu lado!

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