quinta-feira, janeiro 13, 2011

Resiliência: Concepções e Fatores Associados

A TEMPOS FAÇO UM ESTUDO SOBRE ESSE TEMA ENCONTREI ESSE TEXTO E RESOLVI  POSTA-LO, POIS ACREDITO QUE TODO PROFESSOR É RESILIENTE.

Como fénix o professor ressurge todos os dias.

 

  Resiliência: Concepções e Fatores Associados



A resiliência caracteriza-se pela capacidade do ser humano responder de forma positiva às demandas da vida quotidiana, apesar das adversidades que enfrenta ao longo de seu desenvolvimento.
Esta capacidade é considerada por alguns autores como uma competência individual que se constrói a partir das interações entre o sujeito, a família e o ambiente e, para outros, como uma competência não apenas do sujeito, mas, também, de algumas famílias e de certas coletividades. Ser resiliente se “auto alimenta”, porque cada vez que uma dificuldade é superada sentimo-nos cada vez mais aptos para o fazer. As barreiras podem ser cada vez mais altas que fragilizaremos muito menos do que se nos acomodássemos à primeira dificuldade.
A palavra Resiliência foi primeiramente usada em Física para descrever a propriedade que um material pode ter de não se deformar depois de ser submetido a elevada pressão. Do mesmo modo, uma pessoa mais resiliente é aquela que, sob pressão no seu ambiente, não “quebra”, nem se fragiliza facilmente.De longe se pode dizer que as pessoas mais resilientes não sofrem: o que as diferencia é a capacidade que têm de lidar com isso, de sarar as feridas, de vencer e saírem fortalecidas das más experiências por que passam, tal como o material que sofre a pressão também não deixa de ser pressionado, mas recupera a sua forma normal.
As concepções correntes de resiliência

Rutter (1999) refere-se a resiliência como uma relativa “resistência” manifestada por algumas pessoas diante de situações consideradas potencialmente de risco psicossocial para seu funcionamento e desenvolvimento. Segundo o autor, justamente esse caráter relativo é que faz com que o fenômeno seja observado em algumas circunstâncias, mas em outras não, dependendo da etapa do ciclo vital na qual o sujeito se encontra quando enfrenta a adversidade e do domínio examinado no estudo.
A resiliência, segundo Rutter (1987), seria resultante da interação entre fatores genéticos e ambientais, os quais, também, oscilam em sua função, podendo atuar como proteção em certos momentos e, em outros, como fator de risco.
Já Garmezy (1993) concebe a resiliência como a capacidade de recuperar o padrão de funcionamento após experienciar uma situação adversa, sem que, no entanto, deixe de ser atingido por ela. Esta concepção está associada à idéia de que a pessoa resiliente, vivendo sob uma situação de ameaça ao seu bem-estar, pode se curvar, perder suas forças e ainda se recuperar.
Por outro lado, os autores que utilizam o conceito família resiliente partilham da idéia de que esta característica se constrói numa rede de relações e de experiências vividas ao longo do ciclo vital e através das gerações, capacitando a família para reagir, de forma positiva, às situações potencialmente provocadoras de crises, superando essas dificuldades e promovendo sua adaptação de maneira produtiva a seu próprio bem estar.
Para Walsh (1996; 1998), o conceito “família resiliente” diz respeito ao processo interacional que se desenrola nela enquanto unidade funcional, ao longo do tempo, fortalecendo a ambos (indivíduo e conjunto). Trata-se de um processo mediante o qual a família enfrenta seus períodos de crise ou desorganização; resiste às privações prolongadas e efetivamente se reorganiza. Por outro lado, para McCubbin e McCubbin (1993), que examinam o sistema familiar no enfrentamento tanto de circunstâncias normativas como não normativas, as “famílias resilientes” têm um padrão estabelecido de vínculos e flexibilidade, sendo mais capazes de administrar privações e mobilizar forças que resultam em respostas positivas diante de situações provocadoras de crise. Essas famílias são capazes de se preservar como unidades funcionantes e desempenhar suas tarefas durante a crise.
Em síntese, as concepções de resiliência examinadas nesta revisão podem ser classificadas em uma das três categorias já referidas por Werner (1995), ou seja: a) a capacidade do ser humano (indivíduo; família ou comunidade) de manifestar resultados desenvolvimentais esperados, apesar dos riscos presentes no ambiente, os quais podem comprometer esse processo; b) a manutenção de certas competências, mesmo na vigência de adversidades; c) a capacidade do ser humano de recuperar-se das adversidades que experiencia ao longo de sua trajetória vital. Cada uma destas categorias aporta limites e possibilidades, devendo, portanto, ser cuidadosamente examinadas quanto a sua aplicabilidade, tanto na prática profissional quanto na pesquisa.

Fatores de risco e de proteção associados ao estudo da resiliência
A literatura mostra que a resiliência tem sido examinada junto a populações expostas a adversidades de natureza diversa como a guerra; a pobreza extrema; a convivência com a doença mental, os maus tratos, a prematuridade do bebê, as restrições nutricionais, as longas rupturas com as pessoas significativas, as limitações físicas e mentais, a institucionalização prolongada, entre outros.
Os estudos de Rutter (1994), sobretudo aquele em que ele toma por base crianças inglesas, com idade em torno de dez anos, vivendo em condições de pobreza, mostraram que os transtornos psiquiátricos estavam relacionados com a presença simultânea de problemas crônicos como a discórdia entre os pais, o baixo status sócio econômico, a história de criminalidade nos pais, a existência de doença mental no principal cuidador da criança e o fato de elas pertencerem a uma família numerosa.
A pobreza crônica, segundo Garmezy (1993), favorece o acúmulo de estressores que, muitas vezes, persistem ao longo dos anos, produzindo uma cadeia de riscos cujos efeitos são capazes de reduzir e/ou destruir as possibilidades de resposta positiva da criança pobre às adversidades cotidianasvivencia, colocando-a, cada vez mais, em desvantagem.
Dentre os fatores de proteção Cyrulnik (2001) aponta o temperamento da criança ___ flexível, confiante e capaz de buscar ajuda exterior __; o contexto afetivo no interior do qual a criança vive seus primeiros anos ___ um clima familiar que aporte a segurança necessária para que desenvolva a confiança em si mesma e nos outros. Segundo o autor, esses fatores têm um caráter complementar, uma vez que, isoladamente, eles não garantem uma evolução resiliente. Uma criança que vive em condições de risco, mesmo tendo um temperamento que favoreça as interações com outras pessoas e o ambiente, poderá seguir uma evolução resiliente em uma família ou em uma sociedade, mas em outra não.
Outros fatores de proteção incluem: os cuidados responsáveis e constantes dirigidos à criança; as expectativas positivas nela depositadas; as relações de apego seguro; a coesão entre os membros da família, a existência de pelo menos um adulto verdadeiramente interessado na criança, capaz de bem cuidá-la e protegê-la, mesmo na ausência de responsabilidade dos pais, assim como a sensibilidade materna que, juntamente com o suporte social são capazes de reduzir substancialmente os problemas emocionais e comportamentais, principalmente para crianças que crescem em ambientes com maiores desvantagens.


Problemas associados com a construção do conhecimento acerca da resiliência
Do ponto de vista conceitual, pelo menos duas dicotomias são identificadas.
A primeira considera a resiliência ora como um resultado desenvolvimental positivo que emerge em circunstâncias adversas, ora como uma trajetória desenvolvimental positiva.
A segunda dicotomia considera a resiliência ora como «a capacidade de algumas pessoas enfrentarem adversidades acumuladas e situações estressantes, sem prejuízo para seu desenvolvimento», de acordo com o que dizem Vicente e Valentini (1996) apoiadas nos trabalhos de Rutter, ora como a capacidade do sujeito para enfrentar as adversidades e prosseguir apesar do impacto que estas exerceram sobre sua vida. Aqui se vê contradição, pois pensar que adversidades como a guerra e os maus tratos na infância possam não provocar prejuízo para o desenvolvimento de uma pessoa é, de certa forma, negar sua sensibilidade. Esta posição aproxima-se do conceito de invulnerabilidade que, durante certo tempo, foi equivocadamente utilizado como sinônimo de resiliência; e os estudos qualitativos com sujeitos que viveram as atrocidades da guerra destacam o impacto negativo dessa experiência, mostrando que as pessoas não são invulneráveis. Como diz Cyrulnik (2001), elas conservam as lembranças das humilhações, perdas, vergonha e dos sentimentos de ódio e, muito tempo depois ainda sofrem os prejuízos desta vivência. O que as diferencia é terem conseguido se recuperar e construir uma forma de viver que lhes permite responder às demandas quotidianas, apesar dos prejuízos que computam.
Do ponto de vista operacional, os problemas envolvidos com o estudo da resiliência incluem a seleção de indicadores para mensurar este fenômeno multideterminado, assim como sua relatividade (manifestação em apenas algumas áreas do funcionamento) e instabilidade (presença em alguns pontos da trajetória vital de um ser humano, mas, em outros não).
Da mesma forma, a instabilidade do fenômeno resiliência, ao longo do ciclo vital, constitui-se em um desafio sempre presente no processo de pesquisa. Não há dúvidas de que tanto as pessoas resilientes como as não resilientes mostram flutuação em sua maneira de enfrentar e responder às adversidades, em diferentes etapas de sua vida e, sendo assim, seria ilusório esperar um padrão estável e unificado de respostas. De acordo com Hall (2000), é importante considerar que o sujeito assume diferentes identidades em diferentes momentos de sua vida e que nem sempre estas identidades são coerentes e convergentes, mas são capazes de o impulsionar em diferentes direções, criando um repertório diverso de possíveis respostas às várias situações. Sendo assim, a instabilidade do fenômeno resiliência coloca em destaque justamente uma das características mais genuínas do ser humano, isto é, a sua capacidade de se reconstruir, ao longo de sua vida, de se renovar a cada nova experiência, sem, contudo, deixar de ser o que era anteriormente.


Referências Bibliográficas

Cyrulnik, B. (2001). Les vilains petits canards. Paris: Odile Jacob.
Garmezy, N. (1991). Resiliency and vulnerability to adverse developmental outcomes associated with poverty. American Behavioral Scientist. 34(4), 416-430.
Hall (2000). A identidade cultural na pós-modernidade. (T.T. Silva & G.L. Louro, Trad.) Rio de Janeiro: DP&A.
Rutter, M. (1994). Individual Characteristics as a Force in Development . Em M.Rutter & D. Hay Development through life (pp.79-111). London: Blackwell Science
Rutter, M. (1999). Resilience concepts and findings: implications for family therapy. Journal of Family Therapy, 21, 119-144.
Vicente, C.M. & Valentini, W. (1996). A reabilitação psicossocial em Campinas. Em A. Pitta (Org.), Reabilitação psicossocial no Brasil (p p. 48-53). São Paulo: Hucitec.
Walsh, F. (1996). The concept of family resilience: crisis and challenge. Family Process, 35(3).
Walsh, F. (1998). Strengthening family resilience. New York: The Guilford.

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