Já li um economista defini-la como ganhar 20.000 dólares por ano, nem mais nem menos.
Para os monges budistas, felicidade é a busca do desapego.
Autores de livros de auto-ajuda definem felicidade como "estar bem consigo mesmo", "fazer o que se gosta" ou "ter coragem de sonhar alto".
O conceito de felicidade que uso em meu dia-a-dia é difícil de explicar num artigo curto.
Eu o aprendi nos livros de Edward De Bono, Mihaly Csikszentmihalyi e de outros nessa linha.
A idéia é mais ou menos esta: todos nós temos desejos, ambições e desafios que podem ser definidos como o mundo que você quer abraçar.
Ser rico, ser famoso, acabar com a miséria do mundo, casar-se com um príncipe encantado, jogar futebol, e assim por diante.
Até aí, tudo bem.
Imagine seus desejos como um balão inflável e que você está dentro dele.
Você sempre poderá ser mais ou menos ambicioso inflando ou desinflando esse balão enorme que será seu mundo possível.
É o mundo que você ainda não sabe dominar.
Agora imagine um outro balão inflável dentro do seu mundo possível, e portanto bem menor, que representa a sua base.
É o mundo que você já domina, que maneja de olhos fechados, graças aos seus conhecimentos, seu QI emocional e sua experiência.
Felicidade nessa analogia seria a distância entre esses dois balões - o balão que você pretende dominar e o que você domina.
Se a distância entre os dois for excessiva, você ficará frustrado, ansioso, mal-humorado e estressado.
Se a distância for mínima, você ficará tranqüilo, calmo, mas logo entediado e sem espaço para crescer.
Ser feliz é achar a distância certa entre o que se tem e o que se quer ter.
O primeiro passo é definir corretamente o tamanho de seu sonho, o tamanho de sua ambição.
Essa história de que tudo é possível se você somente almejar alto é pura balela.
Todos nós temos limitações e devemos sonhar de acordo com elas.
Querer ser presidente da República é um sonho que você pode almejar quando virar governador ou senador, mas não no início de carreira.
O segundo passo é saber exatamente seu nível de competências, sem arrogância nem enganos, tão comuns entre os intelectuais.
O terceiro é encontrar o ponto de equilíbrio entre esses dois mundos.
Saber administrar a distância entre seus desejos e suas competências é o grande segredo da vida.
Escolha uma distância nem exagerada demais nem tacanha demais.
Se sua ambição não for acompanhada da devida competência, você se frustrará.
Esse é o erro de todos os jovens idealistas que querem mudar o mundo com o que aprenderam no primeiro ano de faculdade.
Curiosamente, à medida que a distância entre seus sonhos e suas competências diminui pelo seu próprio sucesso, surge frustração, e não felicidade.
Quantos gerentes depois de promovidos sofrem da famosa "fossa do bem-sucedido", tão conhecida por administradores de recursos humanos?
Quantos executivos bem-sucedidos são infelizes justamente porque "chegaram lá"?
Pessoas pouco ambiciosas que procuram um emprego garantido logo ficam entediadas, estacionadas, frustradas e não terão a prometida felicidade.
Essa definição explica por que a felicidade é tão efêmera. Ela é um processo, e não um lugar onde finalmente se faz nada.
Fazer nada no paraíso não traz felicidade, apesar de ser o sonho de tantos brasileiros.
Felicidade é uma desconfortável tensão entre suas ambições e competências.
Se você estiver estressado, tente primeiro esvaziar seu balão de ambições para algo mais realista.
Ou então encha mais seu balão de competências estudando, observando e aprendendo com os outros, todos os dias.
Os velhos acham que é um fracasso abrir mão do espaço conquistado.
Por isso, recusam ceder poder ou atribuições e acabam infelizes.
Reduzir suas ambições à medida que você envelhece não é nenhuma derrota pessoal.
Felicidade não é um estado alcançável, um nirvana, mas uma dinâmica contínua.
É chegar lá, e não estar lá como muitos erroneamente pensam.
Seja ambicioso dentro dos limites, estude e observe sempre, amplie seus sonhos quando puder, reduza suas ambições quando as circunstâncias exigirem.
Mantenha sempre uma meta a alcançar em todas as etapas da vida e você será muito feliz.
Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Editora Abril, Revista Veja, edição 1910, ano 38, nº 25, 22 de junho de 2005, página 24
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